Parentalidade Simulada com Bonecas Reborn: Distorções da Realidade, Transtornos Psicológicos e Desafios Clínicos e Sociais
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Nos últimos anos, tem se intensificado no Brasil e em diversas partes do mundo o fenômeno de adultos, especialmente mulheres, que se declaram pais e mães de bonecas reborn — réplicas hiper-realistas de recém-nascidos. O que começou como uma ferramenta artística e terapêutica passou, em muitos casos, a refletir formas de fuga da realidade e uma possível manifestação de sofrimento psíquico não tratado.
O Fenômeno da Parentalidade Reborn
As bonecas reborn surgiram como objetos de arte e, mais tarde, foram incorporadas por algumas abordagens terapêuticas para lidar com perdas gestacionais, infertilidade ou solidão. No entanto, casos recentes vêm revelando comportamentos que ultrapassam o uso simbólico: adultos atribuem nomes às bonecas, criam rotinas, exigem lugares preferenciais em transportes e chegam a levá-las a hospitais. Essa parentalidade simulada suscita preocupação clínica e social.

Distorções da Realidade
Quando a relação simbólica com um objeto inanimado substitui vínculos reais e compromete a percepção da realidade, há um indício de distorção cognitiva. A psicologia cognitiva define isso como uma percepção incorreta e disfuncional da realidade, onde crenças irreais são mantidas como verdadeiras. Esse comportamento pode apontar para negação de traumas, luto não resolvido ou transtornos mentais subjacentes.
Transtornos Psicológicos Associados
Estudos apontam possíveis relações entre a parentalidade reborn e os seguintes quadros clínicos:
- Luto Patológico: quando a boneca é usada para substituir um filho perdido, impedindo o luto saudável.
- Transtornos Dissociativos: fuga da realidade e substituição da própria identidade.
- Transtorno Delirante: quando a crença de que a boneca é real é mantida sem questionamento.
- Transtorno de Apego Reativo: resultado de negligência emocional, promovendo apego disfuncional a objetos.
- Transtornos de Personalidade (esquizotípica ou borderline): com traços de pensamento mágico ou impulsividade afetiva.
Formas de Tratamento
O tratamento deve considerar o contexto emocional do paciente. Entre as abordagens mais indicadas estão:
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): para reestruturação de crenças distorcidas.
- Psicoterapia psicodinâmica: para explorar vínculos interrompidos e traumas.
- Farmacoterapia: em casos com sintomas psicóticos, com prescrição médica.
- Grupos de apoio: para promover socialização e ressignificação do sofrimento.

Impactos na Sociedade
A normalização social de comportamentos que refletem sofrimento psíquico pode mascarar a necessidade de cuidado. Quando a mídia e o mercado reforçam práticas que evitam o enfrentamento da realidade, corre-se o risco de fomentar a solidão, a dissociação e o consumismo emocional.
Conclusão
Embora o uso simbólico das bonecas reborn possa ser terapêutico em alguns contextos, sua adoção como filhos reais por adultos aponta para desequilíbrios emocionais e requer atenção clínica. A sociedade e os profissionais da saúde mental precisam estar atentos a esse fenômeno, evitando tanto o julgamento precoce quanto a romantização de comportamentos potencialmente patológicos.
Questionário Interativo
Responda as perguntas abaixo para refletir sobre sua percepção do tema: