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terça-feira, 3 de junho de 2025

Exegese de Gênesis: Chuva, Agricultura e o Tempo da Arca de Noé

Exegese de Gênesis: Chuva, Agricultura e o Tempo da Arca de Noé

Por Rafael dos Santos Serafim

Algumas interpretações populares das Escrituras afirmam que "no tempo de Noé não chovia" e que a construção da arca levou 120 anos. No entanto, ao examinarmos os textos com cuidado exegético e gramatical, percebemos que tais afirmações não são tão sólidas quanto parecem. Este artigo busca esclarecer essas questões com base em Gênesis 2:5 e outros trechos correlatos.

1. Havia chuva no tempo de Noé?

A ideia de que não chovia no tempo de Noé é comumente baseada em Gênesis 2:5-6, que diz:

“...não havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois nenhuma erva do campo tinha ainda brotado; porque o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a terra, nem havia homem para lavrar a terra.” (Gênesis 2:5)

O texto sugere que a ausência de chuva até então estava relacionada à ausência de cultivo humano. Isso é reforçado pelo versículo seguinte:

“Uma neblina subia da terra e regava toda a superfície do solo.” (Gênesis 2:6)

A irrigação no Éden, portanto, era feita de forma diferente do sistema de chuvas como o conhecemos. Contudo, o texto não afirma que nunca choveu posteriormente antes do dilúvio. O que se observa é que a chuva, tal como descrita em Gênesis 7:4 ("farei chover sobre a terra quarenta dias e quarenta noites..."), talvez tenha sido um fenômeno inédito na forma e intensidade como ocorreu durante o dilúvio, mas não se pode afirmar categoricamente que jamais havia chovido antes.

O uso de “porque” em Gênesis 2:5

Do ponto de vista gramatical, o “porque” usado em Gênesis 2:5 é uma conjunção causal, pois apresenta a razão da ausência das plantas do campo: “porque o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a terra, nem havia homem para lavrar a terra”. Isso confirma que a chuva e a ação humana seriam os meios naturais para o brotar das ervas do campo.

2. Noé levou 120 anos para construir a arca?

Essa é outra afirmação popular, baseada principalmente em Gênesis 6:3:

“Então disse o Senhor: O meu Espírito não agirá para sempre no homem, porque ele é carnal; os seus dias serão cento e vinte anos.” (Gênesis 6:3)

Alguns interpretam esses 120 anos como o tempo dado à humanidade antes do dilúvio e, por consequência, o tempo de construção da arca. No entanto, essa é uma inferência teológica, não uma afirmação direta do texto.

O que o texto realmente diz?

  • Gênesis 5:32 – “Era Noé da idade de quinhentos anos, e gerou Noé a Sem, Cam e Jafé.”
  • Gênesis 7:6 – “E era Noé da idade de seiscentos anos quando o dilúvio das águas veio sobre a terra.”

Ou seja, havia um intervalo de até 100 anos entre o nascimento dos filhos e o início do dilúvio. Como a ordem para construir a arca vem depois (Gênesis 6:14), é mais preciso afirmar que o tempo de construção da arca foi entre 70 e 100 anos, e não 120 anos.

Além disso, muitos estudiosos entendem que os “120 anos” de Gênesis 6:3 referem-se a um limite de longevidade humana imposto por Deus após o dilúvio, já que a expectativa de vida foi gradualmente reduzida ao longo das gerações seguintes.

Conclusão

Ao fazer uma leitura mais atenta e exegética do texto bíblico, percebemos que:

  • Não há base bíblica definitiva para afirmar que nunca choveu até o dilúvio.
  • Gênesis 2:5 usa a conjunção “porque” em sentido causal, explicando a ausência de vegetação como resultado da falta de chuva e do trabalho humano.
  • Gênesis 6:3 não afirma que a arca foi construída em 120 anos. O período provável de construção está entre 70 e 100 anos, com base nos dados genealógicos.

Essas observações nos convidam a lidar com o texto bíblico com reverência e cuidado, evitando afirmações que vão além do que a Escritura realmente diz.

© 2025 Rafael dos Santos Serafim. Todos os direitos reservados.

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