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Estudo Teológico Bíblico (Clique e leia mais)

A verdadeira Lo-Debar.

Quem nunca ouviu uma mensagem ou até mesmo um louvor falando acerca de Mefibosete e Lo-Debar? Essa passagem bíblica tão conhecida no meio e...

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

O surgimento do conceito político de direita e esquerda.

O conceito de "direita" e "esquerda" na política tem suas raízes na Revolução Francesa, mais especificamente nos eventos que ocorreram durante a Assembleia Nacional Constituinte de 1789. Esta divisão, que se tornaria fundamental para a compreensão da política moderna, emergiu de uma maneira quase acidental, baseada na disposição física dos deputados na assembleia.

Na época, a França estava passando por uma transformação radical. O antigo regime absolutista estava desmoronando, e os representantes do povo se reuniram para criar uma nova constituição e um novo sistema de governo. A Assembleia Nacional Constituinte era composta por deputados de diferentes origens e com diferentes visões políticas.

O momento crucial que deu origem a essa divisão ocorreu durante um debate sobre o poder do rei na nova ordem constitucional. A questão central era se o rei deveria ter o poder de veto sobre as decisões da Assembleia. Esta discussão fundamental sobre a estrutura do poder no novo regime levou a uma polarização física na sala.

Aqueles que apoiavam um papel mais forte para o rei e queriam preservar mais elementos do antigo regime se sentaram à direita do presidente da Assembleia. Este grupo incluía principalmente a nobreza e o alto clero, que temiam perder seus privilégios e status com mudanças radicais.

Por outro lado, aqueles que defendiam mudanças mais profundas e um papel mais limitado para o monarca se sentaram à esquerda. Este grupo era composto principalmente por membros do Terceiro Estado - a classe média e baixa - que buscavam reformas significativas na estrutura social e política da França.

Esta divisão espacial logo começou a refletir diferenças ideológicas mais amplas. A "direita" passou a ser associada com o conservadorismo, a tradição e a manutenção da ordem estabelecida. A "esquerda", por sua vez, tornou-se sinônimo de mudança, reforma e, em alguns casos, revolução.

É importante notar que, neste estágio inicial, os termos "direita" e "esquerda" não tinham as conotações complexas que adquiriram mais tarde. Eram simplesmente descrições literais da posição física dos deputados na assembleia. No entanto, à medida que a Revolução Francesa progredia e as tensões políticas se intensificavam, esses termos começaram a adquirir significados mais profundos e nuançados.

Ao longo do século XIX, à medida que os sistemas parlamentares se espalhavam pela Europa e além, esta terminologia foi adotada em outros países. Os conceitos de direita e esquerda evoluíram para abranger uma gama mais ampla de questões políticas, econômicas e sociais.

A direita passou a ser associada não apenas com o conservadorismo tradicional, mas também com ideias como o livre mercado, o nacionalismo e, em alguns casos, o autoritarismo. A esquerda, por outro lado, abraçou causas como o socialismo, o igualitarismo e a expansão dos direitos civis.

É crucial entender que, embora esses termos tenham se originado de uma disposição física específica em um momento histórico particular, eles evoluíram para se tornarem conceitos fluidos e complexos. Hoje, a divisão entre direita e esquerda pode variar significativamente dependendo do contexto nacional e histórico.

Além disso, muitos pensadores políticos argumentam que este espectro linear é uma simplificação excessiva da realidade política. Existem muitas nuances e posições intermediárias que não se encaixam perfeitamente nesta dicotomia. Alguns sistemas políticos modernos reconhecem isso, incorporando partidos de centro ou adotando modelos mais complexos para mapear ideologias políticas.

Apesar dessas limitações, os conceitos de direita e esquerda continuam a ser ferramentas úteis para entender e categorizar posições políticas em muitos sistemas democráticos ao redor do mundo. Eles fornecem um quadro de referência simplificado, mas amplamente compreendido, para discussões políticas e análises eleitorais.

Em conclusão, o surgimento dos conceitos de direita e esquerda no parlamento francês durante a Revolução Francesa foi um momento pivotal na história do pensamento político. O que começou como uma disposição física acidental em uma sala de assembleia se transformou em um paradigma duradouro para compreender e categorizar ideologias políticas. Embora simplificado e às vezes inadequado para capturar toda a complexidade da política moderna, este espectro continua a moldar nossa compreensão e discussão de ideias políticas até os dias de hoje.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

O pedido

Lendo o capítulo 10 do evangelho de Marcos, encontramos alguns relatos interessantes. O texto começa com a pergunta dos fariseus acerca do divórcio e a explicação de Jesus sobre esse assunto. Passa pela passagem de Jesus abençoando as crianças e ensinando que o reino dos céus será alcançado por aqueles que são como as tais. Depois nos conta a triste história do mancebo de qualidade, que tinha tudo para ser um grande discípulo, mas amou mais ao dinheiro do que a Jesus. 

Após esse episódio, Marcos relata o pedido dos filhos de Zebedeu, Tiago e João. No relato do mesmo assunto feito por Mateus, este poupa os discípulos e diz que o pedido partiu da mãe dos dois, embora os dois tenham participado da solicitação. Depois de Marcos ter relatado todo o imbróglio que isto causou, e como Jesus remediou a situação, o capítulo dez termina com o relato da cura do cego Bartimeu.

Dentre essas diversas histórias bem diferentes uma das outras, duas é possível fazer uma ligação através de algo em comum, a saber, a pergunta de Jesus que faz: O que queres que te faça?

Observe que nos dois últimos assuntos do capítulo dez de Marcos, é sobre duas petições, uma pedindo por vanglória, outra para ser resolvida uma necessidade. 

O pedido de ambos revelam o maior desejo de seus corações. Receberam a oportunidade de ter seus pedidos atendidos pelo próprio Senhor Jesus, mas um obteve sucesso e outro não pode ser atendido.

Boa parte de nossas petições diante de Deus são motivadas por interesses próprios, que são exclusivos para nossa satisfação. Geralmente acabamos pedindo algo que, para nós, parece ser um benefício, que irá melhorar a nossa vida, mas que na verdade poderá acarretar situações bem complicadas para alcançarmos o que desejamos. 

Algumas petições entram em conflito com a vontade de Deus, sendo então, em muitos casos, ignoradas por causa do propósito divino. Orar de acordo com a vontade de Deus é um desafio que exige de nós uma profunda comunhão com o Espírito Santo, para podermos estarmos alinhados com aquilo que ele deseja para nós. Neste sentido, o pedido dos filhos de Zebedeu não se enquadravam dentro daquilo que Deus tinha como seu propósito, sendo assim, negada a petição devido a esta estar fora do que Deus já havia planejado para ambos.

A oração não existe para que seja usada como ferramenta para conseguirmos obter de Deus o que queremos. A oração não é o meio pelo qual mudamos o coração de Deus. Embora em alguns casos, pareça que através da oração, Deus tenha sido convencido a mudar de opinião, isso fica claro no caso do rei Ezequias Is 38.1-8, que depois de ter orado e chorado muitíssimo teve a sua sentença mudada. 

A oração é meio pelo qual podemos colocar diante de Deus as nossas necessidades, de podermos entrar em concordância com a sua vontade, para que possamos ser atendidos naquilo que precisamos e que Ele tem para nos abençoar. A oração muda mais o nosso coração, quando humildemente pedimos que seja feita a vontade de Deus. A oração é meio pelo qual podemos ser atendidos prontamente, ou testados em nossa perseverança. Todo pedido feito em oração, deve ser feito com a fé de que oramos para aquele que pode nos atender.

Muitos casos de oração não são respondidos, porque são feitos com um sentimento egoísta, vingativo, sem fé ou por motivos mesquinhos. A oração é a chave para a mudança da nossa situação a medida que ela nos muda.

Um dos problemas das oração não respondidas são os requerimentos que ela exige para ser eficaz, ou seja, para se obter perdão divino, nós devemos perdoar Mt 6.14-15. Para sermos atendidos temos que orar crendo Hb 11.6, pois sem fé é impossível obter a resposta divina. Devemos orar em muitos casos com persistência, Mt 7.7-11, pois jamais Deus não responde a oração de seus filhos, mesmo que seja com a negativa da petição, mas a resposta virá.

A oração ela deve ser feita como um meio para se obter aquilo que necessitamos e vá glorificar a Deus com a benção concedida. Devemos sempre estar em oração, pois é através dela que podemos estar sempre em contato com Deus.


sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Vencido pela sensualidade.

 Atualmente há um comportamento corriqueiro entre os homens mais velhos (entre 35 a +60 anos) de se relacionar com mulheres mais novas. Não são poucos que tem a preferência de ter ao seu lado uma mulher de 10, 18 e até 25 anos mais nova. Alguns vivem com essas mulheres o seu segundo relacionamento, geralmente após um divórcio. Alguns poucos casos são homens que casam pela primeira vez com mulheres bem mais novas que eles e em outros casos, raros também, são de viúvos que encontram em mulheres jovens uma nova oportunidade de ser feliz no amor.

Não há nenhum erro em você casar com uma jovem. Os críticos dizem que para o homem é mais fácil manipular uma garota nova. Outros argumentam que as mulheres mais "maduras" na idade, geralmente estão vindo com uma bagagem, seja de relacionamentos anteriores, de conceitos formados difíceis de mudar e até a questão da estética, que comparada com as jovens é uma luta desigual pois as jovens tem a questão do tempo como aliado.

Mas o que me tem surpreendido é a quantidade de homens que estão deixando suas famílias para viverem um novo relacionamento com as mulheres mais novas. Isso não é fato novo, mas tem tomado novos contornos atualmente. Pois com a desvalorização da durabilidade do casamento, com a facilitação da dissolução dos laços matrimoniais, hoje termina-se um relacionamento para se começar um novo com uma nova mulher. É como o homem que troca de carro pelo modelo mais atual por ser mais bonito, mais confortável, mais potente, mesmo que isso signifique ter um gasto mais para a manutenção do carro novo, mesmo quando o mesmo esforço e dinheiro investido no seu antigo carro, lhe daria a tranquilidade e confiança de ter ao seu lado um bom veículo por muitos anos.

A analogia não é muito adequada mais explica como esses homens atuais tem deixado esposa, filhos, casa, uma história inteira para viver um novo romance. Romance esse que lhe dá a sensação de vigor, de masculinidade e prazer, já bem diminuído com o passar dos anos ao lado de sua antiga companheira. Mas porque isso tem tomado uma proporção tão grande atualmente? O que leva boa parte dos homens a desejarem e procurarem mulheres novas, atraentes para se relacionarem, mesmo com certa idade?

Dentre as muitas questões, psicológicas, econômicas, sociais que possam evolver a resposta, uma boa parte dela se explica pela sensualidade, ou seja, pela volúpia que pelos olhos levam os homens a cometerem alguns erros.

Mas como o cristianismo pode ajudar a entender esse processo? Como a bíblia pode nos ensinar a não sermos influenciados pelos nossos desejos? E quais as consequências que decisões baseadas nos desejos podem nos ocorrer?

É impossível falar de desejo, de cobiça, de mulher, sem citar o rei Davi. Este homem que poderia ter a mulher que desejasse, e que na verdade já tinha mais de uma mulher, mas por causa do desejo, atraído pelos olhos, quis exatamente aquilo que lhe era vedado. Se Davi não tivesse visto Betsabá nua a se banhar, ele não a desejaria, pois ali a cobiça dos olhos que o levou a cometer tal pecado.

Ou seja, o homem que põe os seus olhos naquilo que sua carne, seu desejo interior mais quer, será um passo a mais para fazê-lo a ceder a sua vontade, mesmo que esta lhe seja proibida. 

Com esse ato motivado pela volúpia, pelo desejo e cobiça, Davi amargou consequências terríveis, tendo a sua família destroçada por assassinatos, traição, rebeldia e violências sexual. As consequências da ceder a tentação são maiores que os prazeres que a tentação pode oferecer.

Outro exemplo de homem que foi vencido pela sensualidade foi Herodes. Instigado por sua sobrinha/afilhada, Herodes foi atraído pela beleza e juventude da moça. Ao dançar, sensualmente, diante dos convivas, Salomé despertou em Herodes o seu desejo reprimido, escancarou sua vontade impossível, mas que motivado pelo álcool, que já devia ter consumido em excesso, abriu a boca para dar vazão ao seu desejo oculto.

A dança de Salomé diante de Herodes o fez cair na sua armadilha sensual, como animal que é alimentado e engordado para o abate, foi satisfazendo o seu desejo até exclamar em êxtase, "pede o que queres...". Quando engodados pelo desejo, o homem age sem pensar, não pesa as suas palavras e nas consequências de suas atitudes. Levado pelo desejo irrefreável, o homem quando cede aos seus desejos sensuais se torna dominado por aquilo que ele devia dominar, suas vontades. Por causa disso, Herodes ao ceder as vontades sexuais teve que conceder aquilo que menos desejava. É assim que acontece ao homem que foi derrotado pelas suas vontades, perde o direito de negar aquilo que lhe é mais caro. 

Herodes apesar de ter prendido a João Batista, ouvia, e tinha certo respeito por se tratar de um profeta, mas quando vencido por Salomé com seu jogo de sedução, teve que entregar em uma bandeja aquilo que ele tanto protegia. 

Davi, perdeu a paz em sua casa, colheu a discórdia, assassinato e rebelião. Herodes, perdeu o profeta que na prisão ele protegia contra Herodias, mas ambos, por causa de sua vontade não refreada, foram levados derrota.

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Trechos Bíblicos. A natureza do pecado.

A natureza perigosa do pecado.

Algumas pessoas ridicularizam o conceito de pecado, definindo-o com o uma mera proibição, feita pelos judeus, contra a diversão. Esses indivíduos dizem algo semelhante àquilo que a serpente disse a Eva no jardim do Éden. A serpente sugeriu que Deus estivesse impedindo Eva de ter algo verdadeiramente necessário e que lhe traria grandes benefícios (Gn 3.4,5).

As Escrituras, porém, afirmam que o pecado é perigoso e destrutivo, e não algo divertido ou benéfico. 0 pecado tem consequências devastadoras, que devem ser alvo da nossa atenção. Como o livro de Romanos afirma, o pecado escraviza as pessoas e exige que elas obedeçam a sua concupiscência (Rm 6.6,12,20).

Várias passagens no Novo Testamento aludem à natureza perigosa do pecado:

• Os que pecam destituídos estão da glória de Deus (Rm 3.23). As pessoas, apanhadas na dura armadilha do pecado, não podem mais ter nem desenvolver em sua vida a santidade que Deus pretendeu quando elas foram criadas.

• O pecado é iniquidade (1 Jo 3.4). 0 pecado diz respeito a uma vida que busca agradar primeiramente o eu, em lugar de agradar a Deus, constituindo uma “lei para si mesmo”.

• Toda iniquidade é pecado (1 Jo 5.17). Quando nós pecamos, ofendem os ao Deus que ama a justiça e a retidão, e não a impiedade e a injustiça (Rm 1.18).

• Se apenas soubermos o que é bom, isso não faz de nós pessoas boas, mas pecadores (Tg 4.17). Sendo assim, o pecado envolve a desobediência consciente. É agir contra o que é certo, chegando mesmo a aprovar o pecado cometido pelos outros (Rm 1.32).

Essa é uma situação muito séria. Mas chega a ser surpreendente que todo ser humano seja parte dessa situação. A Bíblia declara: Não há um justo, nem um sequer ( Rm 3.10; com pare com 2 Cr 6.36a; Rm 5.12b) e, também, que todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Rm 3.23).


O pecado está longe de ser uma simples matéria de qualquer religião ou um conjunto de hábitos pessoais. Pelo fato de Deus ser soberano sobre todo o mundo - sobre países, nações, povos e tudo mais - o mau uso de qualquer item da criação implica em pecar contra ele. Nós somos responsáveis por todas as dimensões da vida. Nada é realmente secular, no sentido de estar apartado dos cuidados do Senhor.

Dois tipos de pecado.


A existência do pecado tornou necessário o plano de salvação de Deus em Cristo. Tecnicamente, o pecado é qualquer falta de conformidade com a vontade de Deus ou com Seus padrões — com tudo aquilo que está de acordo com o plano de Deus para nós. No Antigo Testamento, havia sacrifícios pré-ordenados para que fossem perdoados os pecados cometidos por ignorância.
É essa concepção mais abrangente de pecado que leva alguns a acreditarem que todos os cristãos pecam diariamente em palavras, pensamentos e ações. Porém, a Bíblia indica que Deus nos torna particularmente responsáveis pelos atos conscientes de transgressão, rebelião ou omissão (Jo 9.41; Rm 1.20,21; Tg 4.17).

A segunda form a de pecado descrita na Bíblia é decorrente da natureza humana decaída, a inclinação de todas as pessoas para cometerem atos individuais de pecado. Todos têm essa inclinação para o m al; essa é uma herança recebida de Adão (Rm5.12,18,19). Essa tendência universal para a oposição à vontade de Deus recebe nomes com o: pecado original, mente carnal, herança pecaminosa, velho homem, pecado inato, depravação moral e natureza pecaminosa. É uma disposição inerente para o
pecado, uma inclinação de todos para o cometer atos pecaminosos.
É importante observar que a Bíblia distingue os atos pecaminosos da natureza pecaminosa. Os pecados que geralmente cometemos, mas nem sempre, são mencionados no plural: Quantas culpas e pecados tenho eu? Notifica-me a minha transgressão e o meu pecado (Jó 13.23); perdoa-nos os nossos pecados (Lc 11.4). Em contraste, a natureza pecadora normalmente é caracterizada com o uma qualidade ou disposição singular do espírito humano (Rm 7.14,17,20,25; 8.2).

A distinção entre o pecado com a disposição natural e o pecado com o um ato não é indicada apenas pela menção no singular e no plural do term o “pecado”, mas deve ser analisada pelo contexto, que permite interpretar o pensamento do escritor. O pecado com a inclinação da natureza fica evidente quando o contexto enfatiza uma disposição inerente para o mal, com o na crítica feita por Paulo aos coríntios em 1 Coríntios 3.3: Porque ainda sois carnais, pois, havendo entre vós inveja, contendas e
dissensões, não sois, porventura, carnais e não andais segundo os homens. O clamor de Davi - Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto (SI 51.10) — reflete uma realidade do pecado que é mais profunda do que as meras ações; diz respeito a uma pecaminosidade inerente, que requer uma completa limpeza.

O novo comentário bíblico NT, com recursos adicionais
— A Palavra de Deus ao alcance de todos.
Editores: Earl Radmacher, Ronald B. Allen e H.Wayne House
Rio de Janeiro: 2010 (Romanos)

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Qual a orientação bíblica sobre o divórcio e casamento?

A Bíblia não legisla sobre cada detalhe da vida, ela não é um manual detalhado sobre cada uma das ações humanas dizendo o que se pode ou não se pode fazer. Há muitas orientações bem claras na palavra de Deus, outras, no entanto, não são tão específicas sobre o assunto abordado.

Sem contar que, a Bíblia fora escrita em um período muito distante do nosso, onde a cultura de seu tempo era outra, além de ter o componente linguístico, o que contribui mais ainda para a dificuldade de se compreender o que o autor sacro quis dizer e como as pessoas que o ouviram o entenderam. Se havia dificuldade das pessoas que viviam no mesmo período do escritor em saber, e entender o que de fato ele disse, quem dirá nós que vivemos em períodos tão distantes, com culturas diferentes e uma língua diferente.

Contudo, isso não serve de desculpa para dizer que a bíblia é ultrapassada, precisando assim de uma atualização. A bíblia ela é atemporal, Deus usou aqueles homens que a redigiram para alcançar os ouvintes daquela geração, e para todas as demais gerações que viriam. A questão aqui não é a atualidade da palavra de Deus, é a compreensão dessa mesma palavra por nós, que estamos tão distantes da realidade cultural e linguística de seus autores. As vezes damos sentido a um texto que o mesmo não possui, isso porque nós o olhamos com as lentes da nossa realidade.

Esta introdução é para justificar que, algumas coisas que a bíblia não fora clara o suficiente, deixa margem para diferentes interpretações. Pois o texto bíblico na ausência de uma afirmação clara e objetiva, deixa para os exegetas um difícil caminho de interpretação. Respeitando é claro, todas as normas e regras da exegese (contexto histórico, linguístico, cultural..) pode-se chegar ao entendimento do objetivo do autor com aquelas palavras naquele contexto. Por isso, quando analisamos as afirmações dos personagens bíblicos, devemos fazer segundo os conceitos e padrões de seu tempo, não incorrendo no erro de dar sentido do que foi dito para nós, sem levar em conta o sentido para os contemporâneos. 

Quando então vamos abordar o que o texto bíblico diz sobre determinado assunto, devemos entender como aquelas pessoas o entendiam, e qual o objetivo do autor em escrever tal mensagem. Logo, a questão de casamento, divórcio, prostituição e outras, devem ser entendidas segundo o contexto daquela época e como ele serve para nos instruir em nosso próprio contexto. 

Casamento.

O casamento fora instituído por Deus, e isso antes mesmo da queda do homem. Deus o estabeleceu no período de inocência, no Éden. O próprio Deus realizou o primeiro casamento e nele deixou instruções de como o homem e a mulher deveriam agir ao casar-se.

Com a costela que havia tirado do homem, o SENHOR Deus modelou uma mulher e a conduziu até ele. Então exclamou Adão: “Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada ‘mulher’, porquanto do ‘homem’ foi extraída”. Por esse motivo é que o homem deixa a guarda de seu pai e sua mãe, para se unir à sua mulher, e eles se tornam uma só carne. O homem e a mulher viviam nus e não se envergonhavam. Gn 2.22-25 (grifo meu).

Não vou entrar em detalhes o motivo e o que o autor quis dizer em "deixará o homem seu pai e sua mãe para então unir-se a sua mulher". Embora Adão não tivesse pai e nem mãe para os deixar, assim como Eva, percebe-se que a orientação não fora para eles, mas para os que viriam depois.

Assim, o casamento é a união de um homem com uma mulher, pois assim Deus os formou, para completude, onde os dois tornam-se uma só carne na união que é sacramentada com o ato íntimo sexual. Esta união é física, emocional e espiritual, indo além do quesito morar juntos e coabitar. 

Logo vemos que o casamento é algo criado por Deus, sendo assim atemporal, válido em todas as épocas e enquanto houver seres humanos. Ficando estabelecido como casamento a união de um homem com uma mulher, fugindo do princípio divino toda e qualquer relação que envolva outro tipo de união que não seja essa.

Uma questão que fica para nosso tempo é: Por casamento se entende como união civil, união religiosa ou união sexual? Aos olhos de Deus o casamento só é válido quando validado pela instância civil e religiosa? Somente a civil basta, ou só a religiosa, ou quem sabe ao morar junto com uma mulher e viver maritalmente com ela aos olhos de Deus já são vistos como casados? Ou ao ter relações com uma mulher na união de corpos significa uma união marital? 

A sociedade hoje entende como casamento válido a união civil entre duas pessoas, no âmbito cristão, é a união de um homem com uma mulher, sendo realizado na esfera jurídica, ou seja, em cartório, por autoridade competente. A esfera religiosa não interfere nesse sentido, pois não depende de autoridade eclesiástica para ter validade. A igreja considerará a pessoa casada mesmo que a mesma não tenha feito uma cerimônia religiosa, o casamento civil já garante o status de casado. 

Se alguém casar na esfera religiosa, civilmente essa união não tem validade, ela deve ser ratificada na esfera civil. Logo entendemos que para a união de casamento ser válida, na nossa realidade cultural ocidental, deve ser feita na esfera civil, realizado por autoridade competente para validar tal união. Então podemos resumir que no nosso tempo presente, levando em consideração a realidade brasileira, o casamento só é de fato casamento ao fazer a união civil juridicamente. Ou no caso de haver o casamento religioso com efeito civil. Isso ocorre quando, após a celebração religiosa, o casal apresenta, em um prazo de 90 dias, o termo de casamento emitido pela autoridade religiosa para formalização perante o registro civil. De todas as formas, somente com o registro em cartório o casamento passa a ter validade.

Então um casal de namorados que vivem em prática sexual frequente com planos de se casar, não pode argumentar que já são casados diante de Deus, pois na união sexual se concretiza o casamento. Isso é uma desculpa para aliviar o peso da consciência do pecado de fornicação. Pois o casamento só o é de fato, como vimos, quando é sacramentado juridicamente. Viver juntos ou na prática sexual não configura casamento, nem para a igreja, nem civilmente. O casal que vive junto, sem civilmente estar casado, é chamado de amasiado, ou estando em união estável.

União estável.

E a união estável, é casamento? É fornicação? Primeiro vejamos o que é união estável. 

A união estável foi estabelecida no ordenamento jurídico pelo Código Civil - Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. No qual diz: 

"É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família."

Mas para a questão religiosa, esse casal não é considerado casado. No âmbito jurídico a pessoa em união estável não tem o seu estado civil alterado permanecendo no seu registro geral como solteira, mesmo em união estável. Com isso, consideramos no âmbito religioso, que esse casal vive em fornicação, que é a prática sexual antes do casamento. Embora os mesmos possam ser considerados em união estável, tendo alguns direitos de quem vive na situação de casado. 

Não vou entrar aqui em detalhes jurídicos que diferenciam o casamento da união estável. Mas quando dois cristãos deliberadamente resolvem morar juntos sem oficializar a união, eles são considerados amasiados, e sua relação é uma relação fornicária, mesmo que vivam maritalmente.

Mas aí a coisa se complica quando uma das partes envolvidas na relação não for cristã. A igreja considerará a parte cristã como fornicária? 

Essa é uma das realidades existente na igreja hoje em dia, onde há muitas mulheres e homens que vivem maritalmente com seus cônjuges em união estável, não casadas em cartórios.

Muitas se converteram e eram, e alguns casos, impedidas de estarem em comunhão devido ao seu estado civil, vivendo junto a um homem sem ser casado com ele. 

Ponto pacífico é que, nenhum casal cristão pode se escusar de não casar e ir morar junto com a desculpa que vivem em união estável, sendo considerados com os mesmos direitos e deveres de quem de fato é casado, isso não é verdade. Logo, um casal cristão que vive junto sem ser casado, os dois estão em prática pecaminosa reiterada, logo a sua comunhão com a igreja não é permitida, pois vivem na prática pecaminosa. 

Agora quando um dos cônjuges se convertendo a Cristo e vindo para a igreja, mesmo não sendo casado, mas morando com uma pessoa e não estando ao alcance dela unilateralmente converter essa união em casamento civil, a mesma deve ser aceita no corpo de membros de Cristo. O apóstolo Paulo foi bem claro nessa situação.

A todos os demais, eu particularmente, não o Senhor, vos digo: Se algum irmão tem mulher descrente, e esta se dispõe a viver com ele, não se divorcie dela. Da mesma forma, se uma mulher tem marido incrédulo, mas este consente em viver com ela, não se separe dele. Porquanto o marido descrente é santificado por causa da esposa cristã; e a esposa incrédula é santificada por causa do marido crente. Se assim não fosse, seus filhos seriam impuros, mas agora são santificados. I Co 7.12-14

Embora aqui talvez a ideia seja de uma união civil sacramentada, o mesmo vale para as uniões estáveis, onde o casal vive como casados mesmo sem a união civil estabelecida. Porque alguém poderia dizer: Eu vivo em união estável, ao me converter meu esposo(a) não quer mudar nossa relação de união estável para união civil, logo irei me separar pois estou vivendo em pecado de fornicação. Não acredito que essa é a solução aceitável e recomendável. Em caso de uma das partes não querer converter a união estável em união civil, o marido/esposa cristã deve manter o relacionamento, pois se não fosse a conversão não continuaria morando juntos? Então porque agora ao se converter irá se separar? Alguns poderão usar desse argumento para separar-se e contrair um casamento civil, contudo o mais prudente e recomendável é que, a parte cristã busque a união civil, mas não estando ao alcance dela, continue a viver com seu cônjuge, pois se tivesse casado civilmente não iria orar para a conversão de seu cônjuge, o que impede de orar para a conversão dele estando em união estável? E assim ele/ela ao se converter, terá o entendimento que deverá transformar a sua união estável em união civil.

Logo penso ser aceitável que a pessoa ao se converter a Cristo estando em união estável, deva ser recebida, após o batismo, como membro efetivo do corpo de Cristo, participando da comunhão juntamento com os demais irmãos. 

Peca ao viver em união estável o irmão ou irmã que tendo a possibilidade de casar civilmente não o faz deliberadamente. Alguns com intuito de não perder pensões, ou algum outro benefício, usando assim de artimanha para manter o que possuí. Isso é pecado duas vezes, uma por usar de engano e outra de não casar quando se pode e deve casar civilmente, já que vive como casados em união estável.

Como já dito anteriormente, nenhuma pessoa que já é membro do corpo de Cristo poderá viver um relacionamento em união estável. Um irmã(o) que se unir com outra pessoa com intuito de formar família, viver como casados, sem oficializar essa união, ele peca, devendo ser afastado da comunhão pela prática pecaminosa de fornicação(prostituição). Isto porque, o correto seria um cristão casar-se com outro cristão, pois a bíblia recomenda enfaticamente que não devemos nos unir com os infiéis, o que infelizmente tem se tornado prática comum dentro da igreja, casamento entre um cristão e uma pessoa ímpia.

Jamais vos coloqueis em jugo desigual com os descrentes. Pois o que há de comum entre a justiça e a injustiça? Ou que comunhão pode ter a luz com as trevas? Que harmonia entre Cristo e Belial? Que parceria pode se estabelecer entre o crente e o incrédulo? E que acordo pode existir entre o templo de Deus e os ídolos? Porquanto somos santuário do Deus vivo. Como declarou o próprio Senhor: “Habitarei neles e entre eles caminharei; serei o seu Deus, e eles serão meu povo!” Portanto, “saí do meio deles e separai-vos, diz o Senhor, e não toqueis em nada que seja impuro, e Eu vos receberei. Serei para vós Pai e sereis para mim filhos e filhas”, diz o Senhor Todo-Poderoso! II Co 6.14-18 (grifo meu)

Então uma pessoa ao casar-se, deve-o fazer com alguém que comunga da mesma fé, pois por melhor que seja a pessoa ímpia, a Bíblia recomenda que não deva haver uma união de corpos, pois isto é um jugo desigual. Mas aquele que se casa com um ímpio, não tem nada que o impeça de permanecer como membro da igreja, mesmo que seu cônjuge seja um infiel. Desde que, essa união seja civilmente estabelecida. Infelizmente o cônjuge cristão deverá ter a consciência de que a sua escolha poderá acarretar problemas futuros, mas que ela/e não poderá lamentar-se pois a sua escolha foi feita sabendo das recomendações contrárias. 

Divórcio

Essa é a parte mais complicada das interpretações bíblicas sobre os textos que tratam sobre esse assunto. Isto porque a bíblia é vaga em certas passagens dando margem para interpretações distintas.

Primeiramente é importante salientar que o divórcio não foi instituído por Deus. Ele não criou o casamento para depois de casados o casal se venha a separar-se. Mas por causa do pecado, que desvirtuou tudo aquilo que Deus criou bom e perfeito, foi dada a concessão do divórcio. Como o homem ou a mulher, poderiam transgredir o mandamento bom e perfeito do casamento, Deus então possibilitou a ambos terem uma maneira de saírem do laço indissolúvel do casamento. Pois se Deus não houvesse dado essa concessão, o casamento seria tido como indissolúvel, e o homem e a mulher estariam presos um ao outro independente dos erros cometidos pelos cônjuges. 

Por isso, devido a dureza do coração do homem e da mulher em perdoar a ofensa, e também da dureza do coração de ofender a quem não devia, foi concedido essa saída, para que houvesse a possibilidade de haver uma nova união diante de Deus. Haja vista que o casamento não seria mais indissolúvel, só o sendo em caso em que não houvesse motivo plausível para sua dissolução.

Então tenhamos em mente que para Deus o casamento é de fato indissolúvel, e ao casarmos devemos ter em mente que estamos casando para todo o sempre, "até que a morte os separe". Esses tem sido um erro muito frequente nas uniões atuais, onde diante dos problemas conjugais, julgam melhor separar-se do que enfrentar a dificuldade e seguir juntos. Muitos casamentos poderiam ser salvos se os cônjuges tivessem a mentalidade que, independentemente da adversidade, a separação não é uma opção. Mas devido a fraqueza de compromisso em manter o casamento, em situações banais, os casais preferem divorciar-se para garantir a "sua felicidade", do que ter que enfrentar os momentos tristes que são normais em uma relação longa e duradoura como o casamento.

Mas já que o casamento é indissolúvel, quais foram então as possibilidades concedidas por Deus para que houvesse uma ruptura do laço indissolúvel do matrimônio. Vejamos.

Quando um homem tiver esposado uma mulher e formalizado o matrimônio, mas pouco tempo depois descobrir nela algo que ele reprove e por isso deixar de querê-la como esposa, ele poderá dar à sua mulher uma certidão de divórcio e mandá-la embora. Dt 24.1
Observe que não há aqui uma especificação sobre o que seria esse: "descobrir nela algo que ele reprove", podendo ser qualquer coisa motivo para pedir o divórcio. Sendo assim, a união do casamento desvirtuou-se na prática exagerada de divórcios por motivos mais banais possíveis. Em outra tradução o texto declara: "Se não achar graça em seus olhos, por nela achar coisa feia", é tão ambígua como a primeira.

A grande discussão ficou entre duas correntes rabínicas, a escola da Shammai interpretava que esta coisa ambígua chamada "coisa feia" ou "algo que ele reprove", só poderia ser adultério. Não estamos aqui discutindo por exemplo, se o marido descobrisse que a esposa não era mais virgem ao casar-se, isso poderia levar a anulação do casamento. O pecado teria que ser cometido durante o casamento, não antes dele. No caso da moça virgem, viesse a casar, e posteriormente adulterar, então o marido tinha o direito de pedir o divórcio.

Já a outra escola de interpretação, mais liberal, era a de Hillel, ascendente do rabino citado nos evangelhos Gamaliel. A escola de Hillel defendia que ao contrário de Shammai que só via o pecado de adultério como o único possível de pedir a dissolução do casamento, o marido poderia pedir divórcio sob qualquer pretexto. Isso gerou uma onda de divórcios com os mais absurdos motivos.

A discussão sobre o motivo que poderia ocorrer o divórcio ou não era existente ainda no tempo do Senhor Jesus, levando os rabinos da época a perguntar a Jesus a qual visão interpretativa ele defendia, se a de Shammai ou de Hillel.

Foi dito também: ‘Aquele que se divorciar de sua esposa deverá dar a ela uma certidão de divórcio’. Eu, porém, vos digo: Qualquer que se divorciar da sua esposa, exceto por imoralidade sexual, faz com que ela se torne adúltera, e quem se casar com a mulher divorciada estará cometendo adultério. Mt 5.31-32 grifo meu.

Observemos que Jesus não aboliu o divórcio, mas identificou a cláusula de exceção. O motivo válido para o divórcio seria a imoralidade sexual

O que faltava para a lei ficar clara com relação ao divórcio não era como o divórcio devia ocorrer, isso já estava claro que seria através da carta de divórcio, liberando assim a mulher e o homem para novas núpcias, quanto a isso não havia dúvidas. A dúvida era, qual o motivo válido para se divorciar. Essa é a grande questão que ainda perdura em nossos dias, pois as interpretações são muitas.

Replicaram-lhe: “Então por qual razão mandou Moisés dar uma certidão de divórcio à mulher e abandoná-la?” Ao que Jesus declarou: “Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos concedeu separar-se de vossas mulheres. Mas não tem sido assim desde o princípio”. Eu, porém, vos afirmo: “Todo aquele que se divorciar da sua esposa, a não ser por imoralidade sexual, e se casar com outra mulher, estará cometendo adultério”. Mt 19.7-9 grifo meu.

Observe que o princípio da possibilidade de divórcio é o mesmo, a imoralidade sexual dentro do casamento. Não há aqui uma outra possibilidade além dessa. O próprio Cristo declara que seria este o único motivo para haver o divórcio e um novo casamento sem estarem incorrendo no pecado de adultério, pois aos olhos de Deus aqueles que se divorciam sem ser por este motivo, estariam ainda ligados a seu cônjuge até que a morte os separe. Lembrando aqui que o adultério poderia ser de ambas as partes, a mulher poderia pedir divórcio de seu marido se ele a traísse, não sendo exclusividade dos homens poderem divorciar-se. Assim Cristo estabelece uma igualdade de direitos entre os sexos, como fora propósito de Deus desde o início. Isso a lei judaica não permitia, teria que ser do homem o pedido de divórcio. Cristo abole essa distinção colocando que a imoralidade sexual era a única exceção para dissolução do casamento, e essa imoralidade poderia ser cometida por ambas as partes, dando direito a ambas as partes em pedir o divórcio. 

Mas se a única referência a divórcio no novo testamento fosse essa, isso traria muitas complicações. Estaria assim Cristo muito mais próximo a escola de Shammai de interpretação do que a de Hillel.

Então qual seria a segunda referência que temos para avaliarmos a possibilidade bíblica para um divórcio? A primeira sempre será de Cristo, depois de seus apóstolos que continuaram o ministério evangelístico de propagar o reino dos céus. 

Então seguindo os escritos bíblicos, vamos encontrar nos escritos do Ap.Paulo outras referências acerca da natureza do casamento e da possibilidade de sua dissolução.

Todavia, ordeno aos casados, não eu, mas o Senhor: Que a esposa não se separe do marido. Se, porém, ela se separar, que não se case, ou que se reconcilie com o seu marido. E que o marido não se divorcie da sua esposa I Co 7.10-11

A primeira questão defendida pelo apóstolo Paulo é a indissolubilidade do casamento. Não separe, se separar, fique sem casar novamente, ou se possível, se reconcilie com seu marido, esse era o mandamento para casais cristãos. De todas as formas a orientação acerca do casamento deve ser: Não se separe!

Contudo, não havendo a possibilidade de se manter o vínculo do casamento, quais as possibilidades bíblicas para se contrair um novo matrimônio?

No entanto, se o incrédulo decidir separar-se, que se separe. Em tais circunstâncias, nem o irmão nem a irmã estão sujeitos à servidão; pois Deus nos chamou para vivermos em paz. I Co 7.15

Então atrelado ao ensino do Senhor Jesus que o casamento só poderia ser desfeito devido a "imoralidade sexual", está a cláusula de exceção do abandono por parte do infiel. Veja que a pessoa tratada aqui como aquele que se vai é o infiel, isto porque o Ap.Paulo não via a possibilidade de um cristão divorciar-se de sua esposa(o) cristã(o), pois ambos seriam regidos pela lei do amor, logo não haveria imoralidade sexual dentro do casamento e também o desejo de abandono, pois como pessoas em Cristo seguiriam o exemplo e modelo de casamento divinamente estabelecidos, que Paulo exemplifica em outras passagens. 

Esposas, cada uma de vós respeitai ao vosso marido, porquanto sois submissas ao Senhor; porque o marido é a cabeça da esposa, assim como Cristo é a cabeça da Igreja, que é o seu Corpo, do qual Ele é o Salvador. Assim como a igreja está sujeita a Cristo, da mesma forma que as esposas estão em tudo sujeito aos seus próprios maridos. Maridos, cada um de vós amai a vossa esposa, assim como Cristo amou a sua Igreja e sacrificou-se por ela, a fim de santificá-la, tendo-a purificado com o lavar da água por meio da Palavra, e para apresentá-la a si mesma como Igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou qualquer outra imperfeição, mas santa e inculpável. Sendo assim, o marido deve amar sua esposa como ama seu próprio corpo. Quem ama sua esposa, ama a si mesmo! Pois ninguém jamais odiou o próprio corpo, antes o alimenta e dele cuida, assim como Cristo zela pela Igreja, pois somos membros do seu Corpo. “Por esse motivo, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua esposa, e os dois se tornarão uma só carne.” Este é um mistério grandioso; refiro-me, contudo, à união entre Cristo e sua Igreja. Portanto, cada um de vós amai a sua esposa como a si mesmo, e a esposa trata o marido com todo o respeito. Ef 5.22-33 

Paulo não vê a possibilidade do divórcio Cristão, a única possibilidade seria a separação para viver uma vida casta, sem casar-se novamente, pois se casasse estaria comente adultério. Quando afirmo isto, tenho em consideração quando não há motivos plausíveis para o divórcio. Se a mulher ou o homem decide divorciar-se simplesmente porque tem o desejo de se ver livre do seu cônjuge, ele o pode fazer, mas desde que não se case novamente. Mas aqui fica uma pergunta. Se a parte que deseja ir embora pecará ao contrair novo casamento, a parte que foi deixada também pecará se casar-se novamente? Jesus não disse que aquele que repudia a sua mulher a não ser por causa da imoralidade sexual, dando a carta de repúdio (divórcio) não comete adultério ao casar-se novamente, e a mulher repudiada não seria adúltera ao novamente casar-se? 

Quem se separar de sua esposa e se unir a outra mulher estará cometendo adultério; assim como, o homem que se casar com uma mulher divorciada estará igualmente adulterando. Lc 16.18

Acredito que aqui a única possibilidade de cometer adultério é da pessoa que pediu o divórcio, não a pessoa que sofreu o divórcio. Se o homem pediu, ao casar novamente adultera, se a mulher pediu, ao casar novamente adultera. Ou seja, se uma das partes não quis o divórcio, mas a outra parte desejou, a que não quis seria livre para casar-se novamente, pois segundo o apóstolo Paulo: "Em tais circunstâncias, nem o irmão nem a irmã estão sujeitos à servidão; pois Deus nos chamou para vivermos em paz. I Co 7.15. Embora esse não seja um pensamento definitivo, tendo outros uma interpretação diferente, considero injusto para a parte ofendida, ter que viver preso ao antigo cônjuge mesmo quando este não o quer mais, tendo que esperar a morte deste para casar-se novamente sem cometer o pecado de adultério. E se o outro casar novamente, estaria a pessoa então livre para casar-se, ou ainda assim casando cometeria adultério? E se a pessoa que desejou ir embora, e não casou-se novamente, a parte deixada não poderia casar porque a outra não casou? Não é fácil a solução, mas devemos usar de bom senso para entender que a parte ofendida (que não quis) não pode ficar sujeita a parte que quis, pois não estamos sujeitos a servidão.

No caso então do abandono, a pessoa abandonada estaria livre para casar-se novamente. Isto primeiramente o Ap.Paulo tem em relação a casais mistos, ou seja, do crente com a descrente. Partindo do princípio que o cristão já era casado quando se tornou cristão, pois nenhum cristão deve casar-se com um infiel. E estando já casado, uma das partes converte-se, de maneira nenhuma deve deixar o outro cônjuge simplesmente por ele(a) não ser cristã(o). A orientação é que cada um fique na vocação em que foi chamado. Foi chamado sendo casado, permaneça casado, mesmo que seu marido/esposa seja um infiel. Mas no caso de o infiel decidir separar-se, o irmão estará livre para casar novamente, agora deverá casar com um fiel. 

Mas no caso do casal cristão, uma das partes decidir separar-se, o outro separado poderá casar novamente? Como já deixamos claro acima, a pessoa abandonada teria assim direito a casar novamente, sem cometer o pecado de adultério, pois ela não pode obrigar o outro(a) a ficar, e nem poderá ficar preso ao outro até a sua morte, pois não depende dela a permanência da união de ambos. E aquele que decidiu separar-se sendo cristão, ao casar novamente peca cometendo adultério? Se não houve imoralidade sexual, e abandono da outra parte, estará a meu ver adulterando, porque não há nada que corrobore com a dissolução do casamento. Então diante de Deus, segundo a palavra de Jesus, ele estaria violando a indissolubilidade do casamento. 

Então somente o abandono e a imoralidade sexual seriam as causas possíveis para haver um divórcio? Aí que a coisa fica mais complicada ainda, pois há muitas variantes que podem interferir nessa equação.

A cônjuge que sofre agressão verbal e física poderá pedir o divórcio? O cônjuge que não recebe atenção sexual, sendo privado de ter relações com seu cônjuge poderá pedir o divórcio? Há tantas outras possibilidades que neste texto ficaria impossível abordar cada uma delas. Então o que posso dizer é que, cada caso deve ser analisado segundo a luz da palavra de Deus, para então orientar aos envolvidos no que Deus gostaria que fosse feito. Somente com a orientação do Espírito Santo poderemos dar um parecer mais próximo do que diria o Senhor Jesus. Então deixemos essas outras possibilidades para um outro texto.

 

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